Longa caminhada

Longa é a minha caminhada, mas isso não quer dizer que não chegarei lá, onde é meu destino. Levo o tempo que for necessário, mas lá estarei, cansado ou esmagado, doente ou saudável, jovem ou velho… lá chegarei! Sorridente ou contristado.
Durante a caminhada, às vezes um sorriso não é sinônimo de alegria; nem lágrimas, de tristeza. Por vezes… para ser feliz, é preciso haver choro.
Nesse percurso, às vezes, há decisões sem pensamentos, assim como pensamentos sem decisões, tal qual o sol sem Verão, ou a chuva sem Inverno. Posso andar sob a chuva e não me molhar, ou andar ao sol e não secar. Face à situação, muitas vezes nem é uma questão de compreensão, mas sim de lógica, ou no sentido de se fazer lógica.
Ficar calado em muitas situações é melhor do que falar… posso falar em silêncio.
Longe estou de chegar ao meu destino. No meu íntimo, estou convencido que é melhor não mentalizar para não sofrer. Sou chicoteado pelo tempo, esmagado em pensamento. Aliviado na alegria e beneficiado na dor; roubado no amor, desprezado na alegria, abraçado no sofrimento. Traído na mente e enganado no próprio coração. Nunca fui lembrado quanto mais esquecido. A minha caminhada é longa, mas hei de lá chegar.
A vida confunde-me, e as lágrimas caiem sem que haja tristeza. Certo ou errado, tanto faz. O peso da dor é igual. A minha língua pegou ferrugem, os meus olhos observam o que não existe, chegar lá é um sonho, mas ainda me agarro à esperança, mesmo que me despreze.
A intensidade do vento aumenta e, cada vez mais, os meus passos são lentos. Quem quer que eu seja, talvez não mereça o que todos têm.
A caminhada é longa, nem pelo binóculo consigo ver as beiradas do meu destino, a minha mente entra em discórdia com o meu coração todos dias, toda hora. Nem sequer mais transpiro, porque já não existe suor dentro de mim. O que está errado em mim? Tudo? Tentei seguir por vários atalhos, mas nunca avanço; ao contrário, retrocedo ainda mais. Já deixei carga mais do que suficiente, apenas resta-me o esqueleto, pele e umas gotas de sangue.
Não existe esperança nem alegria à minha frente, vejo tudo baço e cinzento. A humilhação é tanta que nem sequer mais ligo, porque simplesmente quero lá chegar, ou apenas parte de mim quer lutar a todo custo para obter algo que de nada serve. Ou seja, serve de sofrimento desnecessário. Quem me dera ter aprendido isso no início da minha viagem, agora é tarde para lamentar, tarde para lembrar frases bonitas e conselhos sábios. Está tudo demasiado escuro, a minha mente gasta-se a passos largos. A informação que ela transmite chega tarde e às vezes nem sequer chega aos meus membros. Vou arrastando a vida num pedaço de trapos, e empurro as desgraças para aonde quer que seja. Não vejo formas de lá chegar, mas ainda não desisti nem pretendo. A cor muda, os traços são cada vez mais visíveis.
Vou desmoronando como um prédio velho. Sinto o vento como se bofetadas a me bater no rosto. Tento imaginar que já não falta muito. Para minha desilusão, lembro-me que nem tão perto estou de chegar. Apenas digo… “hei de chegar, hei de chegar…”. Quem me pode dizer se ainda falta muito? Um caracol anda mais depressa do que eu. Nos céus, os abutres se aprontam para comer o que resta de mim, já eu garanto que não vão gostar, porque minha carne apodreceu no meu corpo vivo. O que mais resta? O que mais há? O vazio? A minha caminhada é longa e curta ao mesmo tempo. Os meus passos é que são lentos e desconfortáveis, posso ser o último, mas espero um dia lá chegar.
JP Décimo
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1 Comentário.

  • jdecimoxxll@hotmail. com
    15 de maio de 2016 1:28 pm

    Todos nós temos uma longa caminhada a percorrer, e depende de cada um de nós como vamos direcionar os nossos passos. – JP Décimo

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